27 março 2015

GESTANTES E TOXOPLASMOSE: DEVO ME DESFAZER DO MEU GATO?

Vejo muita, mas muita gente boa, que ama seus animais, se sentindo obrigada a se desfazer deles tão logo descobrem que estão grávidas. 
Aquele momento que era pra ser de pura felicidade acaba também trazendo um gosto amargo quando você precisa dar adeus a um companheiro tão fiel e amoroso e que, às vezes, já está até idoso. 
Então vamos colocar todas as informações verdadeiras na mesa?

Fiz dois vídeos sobre o assunto: Para ver a parte um clique aqui, e a parte dois clique aqui.


O gato x a Toxoplasmose x as grávidas




A Toxoplasmose é uma doença infecciosa muito séria, principalmente para o feto quando adquirida nos primeiros meses de gravidez.
Ela é uma enfermidade cosmopolita, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, capaz de parasitar animais de sangue quente, em sua maioria servindo como hospedeiros intermediários do parasita. O que implica ao gato um papel de destaque é o fato dos felídeos serem hospedeiros definitivos do agente, portanto, fundamentais para que o ciclo se mantenha.
Toda mulher que esteja pensando em engravidar deve fazer o teste de IgM e IgG pra Toxoplasmose. Caso o teste dê IgG positivo, relaxe. Você já teve contato com a doença e criou anticorpos, seu bebe está protegido. Caso você nunca tenha tido contato (IgG negativo) então deve ter alguns cuidados.


Existem várias formas de se adquirir a doença e o gato NÃO É A PRINCIPAL DELAS!
Você pode adquirir esta doença:



  • Ao ingerir carne crua ou mal passada (30% a 63% dos casos);
  • Ao comer vegetais, frutas e legumes crus mal lavados;
  • Frequentar locais onde vivem muitos gatos de rua como parques com areia para crianças;
  • Cuidando do jardim. Sim, o contato com a terra pode te trazer o contato com fezes de gatos desconhecidos; (3% a 17% dos casos)
  • Tendo contato com as fezes do gato que foi contaminado recentemente (muito dificilmente será o seu).

Os gatos são, sim, transmissores da doença, principalmente os gatos que caçam e que comem carne crua de procedência suspeita. 

Um gato infectado com a doença apenas irá transmiti-la uma vez na vida por somente 15 dias, depois ele vira um portador assintomático com os cistos nos músculos, e não transmite mais a doença.



Gatos domésticos, principalmente os que vivem dentro de casa, se alimentam de ração e somente bebem água tratada muito dificilmente terão contato com o Toxoplasma.


Oi?

Um estudo recente mostrou que a soroprevalência da toxoplasmose em gatos, incluindo gatos errantes (de rua), é em torno de 17% na região metropolitana de Curitiba, semelhante ao encontrado no restante do Paraná (19,4%), Niterói-RJ (19,5%) e São Paulo-SP (11,8 a 23,6%). Isso são os gatos que tem a doença, e a grande maioria já não está mais liberando o parasita nas fezes! Viu como é bem pouquinho?


Mas se a prevalência de gatos contaminados é relativamente mais baixa, por que temos tantas grávidas positivas? 
Na verdade, embora o gato elimine os oocistos (formas infectantes) por apenas 15 dias durante uma única vez em sua vida, quando infectados pela primeira vez com o Toxoplasma gondii, estes oocistos liberados no ambiente podem permanecer no solo por meses ou até anos em condições favoráveis de umidade, temperatura e incidência solar, podendo contaminar as mais variadas espécies animais.

Deste modo fica fácil observar que o provável gato transmissor da toxoplasmose a estas mulheres e população em geral, não é o gato delas, mas sim um gato que deve morar junto às granjas e plantações de hortaliças que elas consomem.

E claro que este gato não as contaminou diretamente pelas fezes, mas sim indiretamente por contaminação dos animais de produção (suínos, ovinos, caprinos e coelhos) ou ainda por legumes, frutas, verduras, leite ou água contaminados. 

Não por acaso, vários estudos mostram que o fator de risco para a infecção de gestantes é o consumo de carne inadequadamente cozida, que contribui em 30% a 63% dos casos; outras como solo contaminado contribuem com 6% a 17%, e o risco de se adquirir toxoplasmose através do contato direto com gatos é extremamente improvável devido às características de eliminação do agente. 

A possibilidade de transmissão para seres humanos pelo simples ato de tocar ou acariciar um gato, ou até mesmo através de arranhões e mordidas, é considerada mínima ou inexistente. 
Ou seja, não se previne toxoplasmose congênita eliminando o gato de uma mulher grávida, mas sim com cuidados higiênicos adequados na ingestão dos alimentos e com bons hábitos de higiene pessoal.

Vem logo irmão!
Como me prevenir então?
O uso de luvas e pazinha para a coleta diária das fezes dos gatos, a adequada lavagem das caixas de areia e das mãos são medidas simples, suficientemente eficazes para não se entrar em contato com o agente da toxoplasmose, uma vez que os oocistos, quando eliminados pelas fezes, necessitam de dois a cinco dias para esporular e se tornar infectantes, e permanecerem como tal por períodos de anos.
Ou seja, se você limpa a caixinha do seu gato diariamente, nunca terá contato com o agente potencialmente infectante mesmo que seu gato esteja liberando o agente nas fezes!

Consumir carnes cozidas pelo menos a 66 ̊C e carnes cruas apenas quando pré-congeladas a -20 ̊, frutas, verduras e legumes bem lavados e mergulhados em solução 1:1000 de hipoclorito de sódio, oferecer aos gatos somente alimentos comerciais (rações) ou pré-cozidos, manter granjas, baias e  local de armazenamento de ração sem a presença de gatos errantes, impedir o controle de roedores pelos gatos, telar parquinhos e praças municipais e escolares, para evitar o acesso de gatos errantes, manter hortas devidamente cercadas e sempre usar luvas para jardinagem.

Conclusão: O contato de gestantes com o Toxoplasma gondii e conseqüente infecção está certamente relacionada aos hábitos de higiene e alimentação, e não no contato direto do proprietário com seus gato, portanto, não há o menor sentido em se recomendar a uma mulher grávida que livre-se do seu gato para evitar a toxoplasmose congênita. 

O ideal seria realizar a sorologia pré-natal da proprietária e o exame sorológico de seus gatos, interpretando o resultado e possível risco da convivência entre ambos, para então serem tomadas precauções inteligentes, que não afetem a interrelação homem-animal que é sempre saudável em qualquer fase da vida.

O contato com animais só trás saúde, alegria e felicidade! Depressão pós-parto? Com um gato ao seu lado, jamais!


Adoro minha casinha!

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Até a próxima pessoa!


Texto feito com informações do CRMV-PR.